quinta-feira, 29 de maio de 2014



SOLA SCRIPTURA: A Erosão da Autoridade

Só a Escritura é a regra inerrante da vida da igreja, mas a igreja evangélica atual fez separação entre a Escritura e sua função oficial. Na prática, a igreja é guiada, por vezes demais, pela cultura. Técnicas terapêuticas, estratégias de marketing, e o ritmo do mundo de entretenimento muitas vezes tem mais voz naquilo que a igreja quer, em como funciona, e no que oferece, do que a Palavra de Deus. Os pastores negligenciam a supervisão do culto, que lhes compete, inclusive o conteúdo doutrinário da música. À medida que a autoridade bíblica foi abandonada na prática, que suas verdades se enfraqueceram na consciência cristã, e que suas doutrinas perderam sua proeminência, a igreja foi cada vez mais esvaziada de sua integridade, autoridade moral e discernimento.
Em lugar de adaptar a fé cristã para satisfazer as necessidades sentidas dos consumidores, devemos proclamar a Lei como medida única da justiça verdadeira, e o evangelho como a única proclamação da verdade salvadora. A verdade bíblica é indispensável para a compreensão, o desvelo e a disciplina da igreja.
A Escritura deve nos levar além de nossas necessidades percebidas para nossas necessidades reais, e libertar-nos do hábito de nos enxergar por meio das imagens sedutoras, clichês, promessas e prioridades da cultura massificada. É só à luz da verdade de Deus que nós nos entendemos corretamente e abrimos os olhos para a provisão de Deus para a nossa sociedade. A Bíblia, portanto, precisa ser ensinada e pregada na igreja. Os sermões precisam ser exposições da Bíblia e de seus ensino, não a expressão de opinião ou de idéias da época. Não devemos aceitar menos do que aquilo que Deus nos tem dado.
A obra do Espírito Santo na experiência pessoal não pode ser desvinculada da Escritura. O Espírito não fala em formas que independem da Escritura. À parte da Escritura nunca teríamos conhecido a graça de Deus em Cristo. A Palavra bíblica, e não a experiência espiritual, é o teste da verdade.
Tese 1: Sola Scriptura
Reafirmamos a Escritura inerrante como fonte única de revelação divina escrita, única para constranger a consciência. A Bíblia sozinha ensina tudo o que é necessário para nossa salvação do pecado, e é o padrão pelo qual todo comportamento cristão deve ser avaliado.
Negamos que qualquer credo, concílio ou indivíduo possa constranger a consciência de um crente, que o Espírito Santo fale independentemente de, ou contrariando, o que está exposto na Bíblia, ou que a experiência pessoal possa ser veículo de revelação. 

SOLO CHRISTUS
: A Erosão da Fé Centrada em Cristo 
À medida que a fé evangélica se secularizou, seus interesses se confundiram com os da cultura. O resultado é uma perda de valores absolutos, um individualismo permissivo, a substituição da santidade pela integridade, do arrependimento pela recuperação, da verdade pela intuição, da fé pelo sentimento, da providência pelo acaso e da esperança duradoura pela gratificação imediata. Cristo e sua cruz se deslocaram do centro de nossa visão.
Tese 2: Solus Christus
Reafirmamos que nossa salvação é realizada unicamente pela obra mediatória do Cristo histórico. Sua vida sem pecado e sua expiação por si só são suficientes para nossa justificação e reconciliação com o Pai.
Negamos que o evangelho esteja sendo pregado se a obra substitutiva de Cristo não estiver sendo declarada e a fé em Cristo e sua obra não estiver sendo invocada. 

SOLA GRATIA: A Erosão do Evangelho A Confiança desmerecida na capacidade humana é um produto da natureza humana decaída. Esta falsa confiança enche hoje o mundo evangélico – desde o evangelho da auto-estima até o evangelho da saúde e da prosperidade, desde aqueles que já transformaram o evangelho num produto vendável e os pecadores em consumidores e aqueles que tratam a fé cristã como verdadeira simplesmente porque funciona. Isso faz calar a doutrina da justificação, a despeito dos compromissos oficiais de nossas igrejas.
A graça de Deus em Cristo não só é necessária como é a única causa eficaz da salvação. Confessamos que os seres humanos nascem espiritualmente mortos e nem mesmo são capazes de cooperar com a graça regeneradora.
Tese 3: Sola Gratia
Reafirmamos que na salvação somos resgatados da ira de Deus unicamente pela sua graça. A obra sobrenatural do Espírito Santo é que nos leva a Cristo, soltando-nos de nossa servidão ao pecado e erguendo-nos da morte espiritual à vida espiritual.
Negamos que a salvação seja em qualquer sentido obra humana. Os métodos, técnicas ou estratégias humanas por si só não podem realizar essa transformação. A fé não é produzida pela nossa natureza não-regenerada. 

SOLA FIDE: A Erosão do Artigo Primordial 

A justificação é somente pela graça, somente por intermédio da fé, somente por causa de Cristo. Este é o artigo pelo qual a igreja se sustenta ou cai. É um artigo muitas vezes ignorado, distorcido, ou por vezes até negado por líderes, estudiosos e pastores que professam ser evangélicos. Embora a natureza humana decaída sempre tenha recuado de professar sua necessidade da justiça imputada de Cristo, a modernidade alimenta as chamas desse descontentamento com o Evangelho bíblico. Já permitimos que esse descontentamento dite a natureza de nosso ministério e o conteúdo de nossa pregação.
Muitas pessoas ligadas ao movimento do crescimento da igreja acreditam que um entendimento sociológico daqueles que vêm assistir aos cultos é tão importante para o êxito do evangelho como o é a verdade bíblica proclamada. Como resultado, as convicções teológicas freqüentemente desaparecem, divorciadas do trabalho do ministério. A orientação publicitária de marketing em muitas igrejas leva isso mais adiante, apegando a distinção entre a Palavra bíblica e o mundo, roubando da cruz de Cristo a sua ofensa e reduzindo a fé cristã aos princípios e métodos que oferecem sucesso às empresas seculares.
Embora possam crer na teologia da cruz, esses movimentos a verdade estão esvaziando-a de seu conteúdo. Não existe evangelho a não ser o da substituição de Cristo em nosso lugar, pela qual Deus lhe imputou o nosso pecado e nos imputou a sua justiça. Por ele Ter levado sobre si a punição de nossa culpa, nós agora andamos na sua graça como aqueles que são para sempre perdoados, aceitos e adotados como filhos de Deus. Não há base para nossa aceitação diante de Deus a não ser na obra salvífica de Cristo; a base não é nosso patriotismo, devoção à igreja, ou probidade moral. O evangelho declara o que Deus fez por nós em Cristo. Não é sobre o que nós podemos fazer para alcançar Deus.
Tese 4: Sola Fide
Reafirmamos que a justificação é somente pela graça somente por intermédio da fé somente por causa de Cristo. Na justificação a retidão de Cristo nos é imputada como o único meio possível de satisfazer a perfeita justiça de Deus.
Negamos que a justificação se baseie em qualquer mérito que em nós possa ser achado, ou com base numa infusão da justiça de Cristo em nós; ou que uma instituição que reivindique ser igreja mas negue ou condene sola fide possa ser reconhecida como igreja legítima. 

SOLI DEO GLORIA: A Erosão do Culto Centrado em Deus Onde quer que, na igreja, se tenha perdido a autoridade da Bíblia, onde Cristo tenha sido colocado de lado, o evangelho tenha sido distorcido ou a fé pervertida, sempre foi por uma mesma razão. Nossos interesses substituíram os de Deus e nós estamos fazendo o trabalho dele a nosso modo. A perda da centralidade de Deus na vida da igreja de hoje é comum e lamentável. É essa perda que nos permite transformar o culto em entretenimento, a pregação do evangelho em marketing, o crer em técnica, o ser bom em sentir-nos bem e a fidelidade em ser bem-sucedido. Como resultado, Deus, Cristo e a Bíblia vêm significando muito pouco para nós e têm um peso irrelevante sobre nós.
Deus não existe para satisfazer as ambições humanas, os desejos, os apetites de consumo, ou nossos interesses espirituais particulares. Precisamos nos focalizar em Deus em nossa adoração, e não em satisfazer nossas próprias necessidades. Deus é soberano no culto, não nós. Nossa preocupação precisa estar no reino de Deus, não em nossos próprios impérios, popularidade ou êxito.
Tese 5: Soli Deo Gloria
Reafirmamos que, como a salvação é de Deus e realizada por Deus, ela é para a glória de Deus e devemos glorificá-lo sempre. Devemos viver nossa vida inteira perante a face de Deus, sob a autoridade de Deus, e para sua glória somente.
Negamos que possamos apropriadamente glorificar a Deus se nosso culto for confundido com entretenimento, se negligenciarmos ou a Lei ou o Evangelho em nossa pregação, ou se permitirmos que o afeiçoamento próprio, a auto-estima e a auto-realização se tornem opções alternativas ao evangelho.

Fonte: Declaração de Cambridge

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Tesouro em vaso de barro ou pirita em vaso de luxo?


O poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê” (Rm 1.16): era assim que o apóstolo Paulo se referia ao evangelho, do qual dizia não se envergonhar. Contudo, o apóstolo sabia muito bem que, por causa da queda, o homem natural não daria ouvidos a coisas espirituais, pois elas de discernem espiritualmente (1Co 2.14) e que para os mortos espirituais a Palavra da cruz não passa de loucura (1Co 1.18). Conforme Paulo, como “na sabedoria de Deus, o mundo não o conheceu por meio da sabedoria humana, agradou Deus salvar aqueles que creem por meio da loucura da pregação” (1Co 1.21 – NVI).
Em sua segunda epístola aos Coríntios o apóstolo enfatizou: “visto que temos este ministério pela misericórdia que nos foi dada, não desanimamos. Antes, renunciamos aos procedimentos secretos e vergonhosos; não usamos de engano, nem torcemos a palavra de Deus. Ao contrário, mediante a clara exposição da verdade, recomendamo-nos à consciência de todos, diante de Deus” (2Co 4.1,2 – NVI). Ao pregar a Jesus Cristo, o Senhor, iria se cumprir o que Deus disse: “Das trevas resplandeça a luz, ele mesmo brilhou em nossos corações, para iluminação do conhecimento da glória de Deus na face de Cristo” (2Co 4.6 – NVI). A conclusão de Paulo é extraordinária: “temos esse tesouro em vasos de barro, para mostrar que este poder que a tudo excede provém de Deus, e não de nós” (2Co 4.7).
O método de Deus para a salvação é, e sempre foi, a fiel pregação da Palavra que, aplicada ao coração do pecador pelo Espírito de Deus, traz os eleitos à fé em Cristo Jesus e glorifica ao Deus que salva pecadores indignos. O alvo principal da evangelização é, portanto, a glória do Deus gracioso. Foi com essas convicções que Paulo pediu a ajuda da igreja de Roma para chegar à Espanha a fim de pregar o evangelho, visto não ter mais campo de trabalho na região em que estava (Rm 15.23-24).
Mesmo diante dessas verdades, temos testemunhado em nossos dias uma completa distorção do propósito primário da evangelização. Ela agora não prioriza a glória de Deus, mas busca, de toda forma, fazer com que o homem seja salvo. Tirando-se o Senhor do centro, perde-se a convicção de que a proclamação fiel da Escritura seja suficiente para o Senhor salvar a quem quer salvar e busca-se ser “mais eficaz” no chamado do pecador.
O resultado disso é uma mensagem antropocêntrica que visa a tornar o evangelho mais “palatável” ao pecador e que parte da falsa premissa de que o homem está interessado em Deus, mas somente a mensagem da Escritura não é suficiente para despertar nele o interesse pelo Senhor. O esforço, então, não é mais para se compreender o texto bíblico dentro do seu contexto, explicá-lo e aplicá-lo à vida dos homens, dependendo da ação do Espírito para convencê-lo do pecado, da justiça e do juízo. Longe disso! A maior concentração de forças está em produzir um ambiente agradável e descolado, um marketing que apela àquilo que o pecador acha que precisa e uma mensagem mais “contemporânea” baseada em poesias, filmes e músicas seculares, com umas poucas referências bíblicas e, é claro, com o devido cuidado de não falar diretamente sobre o pecado e a ira de Deus, assuntos tão “indigestos” e “desnecessários”.
Uma mensagem assim não é o evangelho, poder de Deus para a salvação do que crê e tesouro em vaso de barro, antes, assemelha-se mais à pirita ou, como é comumente chamada, “ouro de tolo”. Parece ter algum valor, mas é puro engano e, como não tem o poder para a salvação que é fruto da clara exposição da verdade (2Co 4.2), tem a oferecer somente entretenimento, resultado da ornamentação do vaso que passa a ser mais importante que o seu conteúdo. Uma mensagem assim, que coloca o homem no centro em detrimento de Deus, fatalmente se encaixa naquela categoria que Paulo chamou de “outro evangelho”.
Tesouro em vaso de barro ou “ouro de tolo” em vaso de luxo? O que você tem procurado apresentar ao homens?
Que o Senhor nos faça cada dia mais convictos da suficiência da mensagem do evangelho que aponta o pecado do homem, sua condenação e a providência do Deus gracioso, em Cristo Jesus, para a salvação de todo aquele que nele crê.

texto: Rev. Milton Junior